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Com demo grátis, jogo brasileiro se passa em São Paulo e traz não-monogamia saudável como tema! Confira a entrevista

Entre tantos títulos que chegam à Steam toda semana, é fácil deixar passar experiências únicas — mas uma delas chamou nossa atenção por misturar um sistema de cartas simbólicas, discussões sobre não-monogamia e uma São Paulo viva como cenário. Esse é Pivot of Hearts, primeiro jogo do estúdio Dragonroll Studio, que chega ao PC com a proposta de contar uma história de autoconhecimento e equilíbrio emocional por meio de escolhas narrativas e visuais que remetem aos animes dos anos 90.

Na trama, os jogadores acompanham o cotidiano de Wén Xiàn, um programador taiwanês-brasileiro que começa a se reconectar com seus sentimentos após um longo período de isolamento. Com cerca de oito horas de duração, a campanha incorpora elementos do tarô, mini-games, ilustrações originais e possui até cinco diferentes desfechos.


Conversamos com os desenvolvedores para conhecer melhor o que está por trás da criação de Pivot of Hearts, da origem do estúdio até as decisões criativas que tornam essa visual novel um projeto tão distinto no cenário brasileiro. Confira!


Um estúdio nascido junto com o projeto

A Dragonroll Studio surgiu em 2019, mesmo ano em que Pivot of Hearts começou a ser desenvolvido. A equipe principal é composta por quatro integrantes que se conheceram em projetos ligados à Universidade de São Paulo (USP), com experiências diversas no mercado criativo.


A diretora de arte, Lívia, já trabalhou como storyboarder na TV PinGuim e no jogo Diesel Legacy, enquanto o programador Wil foi co-fundador do grupo USPGameDev e atuou como líder técnico na Irya Solutions. Embora este seja o primeiro jogo comercial do estúdio, o grupo já tinha no currículo diversos protótipos e participações em game jams.


Uma visual novel que aposta no baralho emocional

A base do gameplay de Pivot of Hearts remete ao estilo clássico das visual novels, com uma narrativa centrada em escolhas que moldam o rumo da história. No entanto, a equipe decidiu ir além e integrar um sistema de cartas simbólicas, inspirado tanto no baralho tradicional quanto na simbologia do tarô. “Cada naipe representa um tipo de energia, com base na simbologia do tarô: espadas é lógica, copas é emoção, ouros é perseverança e paus, ímpeto”, explicam os desenvolvedores.



As escolhas do jogador consomem ou acumulam pontos desses naipes, exigindo um equilíbrio constante para avançar. Os desenvolvedores comentam: “Esse sistema funciona como um argumento lúdico que sustenta a tese da narrativa, que preza pelo equilíbrio nas relações,” contextualizam, “Encontramos nos naipes uma forma interessante de representar essas diferentes energias, ou posturas que podemos assumir diante de uma escolha”.


Representando a não-monogamia de maneira saudável

Uma das decisões mais ousadas do projeto foi abordar a não-monogamia como tema central da história. Em vez de usar clichês ou relações superficiais, Pivot of Hearts apresenta personagens que vivem esse modelo relacional com honestidade, empatia e questionamento. A escolha, segundo o time, veio tanto da familiaridade pessoal com o tema quanto da vontade de preencher uma lacuna de representatividade nos games.


Segundo os desenvolvedores, a não-monogamia seria entendida não como uma surpresa, mas algo natural durante a construção da história. Eles comentam: “O desafio de abordar esse tema é justamente evitar os estereótipos,” afirmam, “transmitir a ideia de não-monogamia de forma que não parecesse uma pregação ou subestimasse os jogadores”.


São Paulo como influência e plano de fundo

Ambientado em São Paulo, o jogo busca representar a essência da cidade em seus cenários e personagens. Locais como a Liberdade, o CCSP e a Avenida Paulista foram fotografados e serviram de base para os cenários desenhados à mão. Eles afirmam que as escolhas têm o “objetivo de acolher o jogador em espaços familiares, próximos da sua realidade,” e possivelmente até incentivar o turismo nessas regiões.


Essa ambientação também se reflete nos diálogos, recheados de gírias, expressões e hábitos paulistanos — como marcar encontros na catraca do metrô ou cantar no karaokê do bairro. Os desenvolvedores contextualizam: “A presença da diáspora asiática em São Paulo é um elemento importante da história e informa o senso de identidade de vários personagens.”


Um protagonista raro nos games

O personagem principal, Wen, é um jovem taiwanês-brasileiro — uma representação ainda pouco comum nos games. Sua identidade cultural e as pressões familiares que carrega servem como pilares para os dilemas vividos ao longo da trama. “escolhemos um taiwanês-brasileiro porque essa etnia possui uma presença marcante na cidade de São Paulo,” eles afirmam, “algo que é muito recorrente, em muitas famílias dos nossos amigos e amigas dessa cultura, são costumes conservadores que valorizam muito o casamento como forma de status social,” explicam.


Esse fator tem impacto direto na trama: “Isso se reflete nas preocupações e ansiedades que o protagonista carrega do seu passado e às quais precisará conciliar ao desenrolar da trama,” afirmam, “É uma das manifestações mais explícitas das expectativas monogâmicas com que temos contato direto e por isso nos interessamos em explorá-la”.


Estética de anime com alma brasileira

O visual do jogo é fortemente inspirado por animes dos anos 90 e 2000, como Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco e Sakura Card Captors, mas adaptado para representar a diversidade étnica do Brasil. O traço dos personagens também remete a títulos como Love Hina, Serial Experiments Lain e mangás shoujo, segundo o feedback dos próprios jogadores.


Tratando da dublagem, apesar de ter sido inicialmente escrito em inglês, o jogo conta com uma versão em português totalmente adaptada. O próprio estúdio cuidou da localização, garantindo que os diálogos soem naturais e repletos de referências locais. “há vários ‘eita!’, ‘oxe!’ e ‘aff’”, comentam.


Jogadores estrangeiros também são contemplados: muitos têm reagido com curiosidade a elementos da cultura brasileira, buscando saber o que é “polenta” ou o que significa “sertanejo”, o que acrescenta uma camada educativa e cultural à experiência.


Finais múltiplos e possibilidades futuras

Com cinco finais diferentes, Pivot of Hearts apresenta diversas abordagens sobre felicidade e relacionamentos, incluindo um final “canônico” que dá nome ao jogo e outro “especial”, acessível apenas em condições específicas. “gostaríamos muito que os jogadores testem várias escolhas possíveis”, comenta o estúdio.


O jogo chega primeiro ao PC, mas o time da Dragonroll Studio já manifesta interesse em levá-lo ao Nintendo Switch, PlayStation e Xbox no futuro. O sucesso no lançamento pode ser o empurrão que falta para essa expansão


fonte: Voxel


 
 
 

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